segunda-feira, 20 de maio de 2013

Aquilo que as Folhas Viram na Noite

Ela devia ter pego sua jaqueta, mas nunca conseguia lembrar-se disso. Ao contrário de hoje, o frio nunca vem. O vento gélido leva as folhas secas para uma jornada que pode acabar brevemente quando elas suavemente chegam ao chão, ou simplesmente voam o mais alto que podem, tendo a mais bela visão da noite naquela cidade tranquila, mas inquietante. 

Assim como o coelho branco do País das Maravilhas, ela sempre está atrasada. Nunca consegue chegar no horário, e sempre sai mais tarde do trabalho. Sua mente é um caos que ela já desistiu de ordenar, até porque podemos encontrar muitas coisas perdidas no caos. Coisas perdidas que nos alegram com o retorno, ou que nos assombram, sendo que nunca deveriam terem sido encontradas novamente. As feridas nunca vão desaparecer. 

Aquela sombra e o som dos passos não deveriam estar ali. O desespero também não. Olhar para trás não adianta nada agora, então ela simplesmente anda o mais rápido que consegue. Ou acha que consegue.

Seu corpo começa a tremer e o arrepio subitamente aparece. Ela para bruscamente, e apenas consegue olhar para frente. Uma lâmina gelada pode ser sentida em seu pescoço. A frieza da situação.

Ela devia ter pego sua jaqueta. 

Flávio Moraes
(22/02/2013)

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